ATA DA VIGÉSIMA SÉTIMA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA
ORDINÁRIA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 19.09.1996.
Aos dezenove
dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e noventa e seis reuniu-se, no
Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto
Alegre. Às dezessete horas e trinta e um minutos, constatada a existência de
"quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da
presente Sessão, destinada à entrega do Prêmio Tradicionalista "Glauco
Saraiva" ao Jornalista, Escritor e Compositor Senhor Antônio Fagundes e à
entrega do Prêmio Artístico "Lupicínio Rodrigues" à Fátima Gimenez,
nos termos dos Requerimentos n°s 04 e 41 (Processos n°s 369/96 e 2178/95), de
autoria do Vereador Reginaldo Pujol. Compuseram a MESA: o Vereador Isaac
Ainhorn, Presidente desta Casa, o Senhor Antônio Augusto Fagundes, a Senhora
Fátima Gimenez, a Senhora Margarete Moraes, Secretária Municipal de Cultura,
representante do Senhor Prefeito Municipal, o Desembargador Nelson Rassier,
representante do Tribunal de Justiça do Estado, Coronel Irani Siqueira,
representante do Comando Militar do Sul, Senhor Dirceu Jesus Brizola,
Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho, e o Major Carlos Roberto
Amador, representante do Comando Geral da Brigada Militar. Em prosseguimento, o
Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, assistirem à execução do Hino
Nacional. Logo após, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que
falariam em nome da Casa. O Vereador Reginaldo Pujol como proponente e pelas
Bancadas do PFL, PDT, PC do B, PSDB, PST e PPB, discorreu sobre o verdadeiro
significado do Tradicionalismo e sua importância. O Vereador Giovani Gregol, em
nome da Bancada do PT, teceu considerações
sobre a iniciativa do Vereador Reginaldo Pujol em homenagear o Senhor Antônio
Augusto Fagundes e a cantora e intérprete Fátima Gimenez. O Vereador Lauro
Hagemann, pela Bancada do PPS, relembrou alguns episódios que deram razão à
homenagem. A seguir, o Senhor Presidente registrou a presença do Cidadão de
Porto Alegre e Presidente da Comenda dos Italianos, Senhor Marcos Recheviski,
momentos antes da execução do Hino Riograndense. Em continuidade, o Senhor
Presidente convidou os Vereadores oradores que fizessem a entrega do Título aos
homenageados. Logo após, o Senhor Presidente passou a palavra ao Senhor Antônio
Fagundes, que agradeceu a presente homenagem, incluindo os Cavaleiros da Paz na
saudação. Em continuidade, o Senhor Presidente registrou as seguintes
presenças: Senhora Flora Fagundes Ruas, irmã do homenageado e esposa do
Vereador Pedro Ruas, que não pôde comparecer neste Plenário. Em prosseguimento,
foi concedida a palavra à homenageada Fátima Gimenez, que ressaltou a
circunstância especial de estar sendo homenageada em plena Semana Farroupilha,
agradecendo a todos os Vereadores e também a todos os presentes. Logo após, o
Senhor Presidente registrou a presença do Vereador Artur Zanella e pediu que a
homenageada assumisse a Tribuna para que, de pé, todos cantassem o Hino
Riograndense. Às dezoito horas e trinta e cinco minutos, nada mais havendo a
tratar, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e declarou encerrados
os trabalhos. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Isaac Ainhorn e
secretariados pelo Vereador Reginaldo Pujol, como secretário "ad
hoc". Do que eu, Reginaldo Pujol, secretário "ad hoc",
determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e
aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e l° Secretário.
O SR. PRESIDENTE (Isaac
Ainhorn):
Damos por abertos os trabalhos da 27ª Sessão Solene da 4ª Sessão Legislativa
Ordinária da XI Legislatura, que tem por objetivo a entrega do Prêmio
Tradicionalista Glauco Saraiva ao Sr. Antônio Augusto Fagundes e a entrega do
Prêmio Artístico Lupicínio Rodrigues à Sra. Fátima Gimenez. Ambas indicações
são de iniciativa do Ver. Reginaldo Pujol.
Convido para integrar a Mesa, inicialmente, os nossos homenageados; a
Sra. Margarete Moraes, Secretária Municipal da Cultura, representando o Sr.
Prefeito Municipal, Tarso Genro; o Des. Nelson Rassier, representando o
Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul; o Cel. Irani
Siqueira, que representa o Comando Militar do Sul; o representante do Comando
Geral da Brigada Militar, Major Carlos Roberto Amador; o Sr. Dirceu Jesus
Brizola, Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho.
A presente Sessão Solene reveste-se de uma singularidade que é
justamente a de que, numa mesma Sessão Solene, homenageia-se a cantora
intérprete Fátima Gimenez, que recebe o Prêmio Artístico Lupicínio Rodrigues, e
procede-se à entrega do Prêmio Tradicionalista Glauco Saraiva ao jornalista ,
escritor e compositor Antônio Augusto Fagundes, com a peculiaridade de que
ambos se constituem, indiscutivelmente, em duas figuras que, pelos seus
desempenhos, pelas suas atuações profissional e artística, orgulham este
Estado. Ambas proposições são de iniciativa do Ver. Reginaldo Pujol.
Convidamos a todos para que, de pé, ouçamos a execução do Hino Nacional
Brasileiro.
(Executa-se o Hino Nacional Brasileiro.)
Tive a oportunidade, aqui, na condição de Presidente, de ouvir os
acordes do Hino Nacional sendo acompanhados pela nossa cantora, que o deixou
mais bonito. Ao final, por ocasião do Hino Riograndense, faremos um apelo para
que ela ocupe a tribuna para contá-lo em memória aos nossos heróis
Farroupilhas.
Queremos registrar a presença do ex-Deputado Vitor Faccioni e dos
ex-Vereadores Jorge Goularte e Getúlio Brizola, entre outras pessoas que honram
e abrilhantam a presente Sessão Solene com suas presenças.
Passamos a palavra ao proponente da Sessão, Vereador Reginaldo Pujol,
que fala pelas Bancadas do PFL, do PDT, PC do B, PSDB, PST e PPB.
O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, integrantes da Mesa neste ato, em especial Deputado Vitor Faccioni,
Diretor do Banco Regional do Desenvolvimento do Extremo Sul, Antônio Augusto
Fagundes, Sra. Fátima Gimenez. Sinto-me hoje extremamente feliz, na medida em
que esta Casa recebe esta plêiade de valores para compor esta solenidade marcante
que se realiza na véspera da data máxima da tradição no Rio Grande, o 20 de
Setembro. Em verdade, a difusão, a propagação, o culto e a defesa dos valores
propugnados pela Revolução Farroupilha constituem-se hoje em objetivo
permanente que é perseguido com tenacidade por todos aqueles que cultivaram a
tradição gaúcha e que sonham com a supremacia dos valores que inspiraram os
nossos antepassados, os revolucionários de 35. De efeito, os ideais de
igualdade, liberdade e fraternidade que empolgaram os nossos antepassados estão
hoje mais vivos do que nunca. Assim, é recomendado que todos os homens de bem
que compõem a sociedade gaúcha pugnem pelo enaltecimento da ação positiva que
vem sendo desenvolvida por poetas, escritores, músicos, enfim, cidadãos que,
comprometidos com a causa tradicionalista, não têm poupado esforços no afã de
divulgá-la, defendê-la e difundi-la, neste sentido relevante ao trabalho
desenvolvido para demonstrar que o tradicionalismo não se restringe ao uso da
bombacha, ao hábito de beber chimarrão, a participar de fandangos ou a passear
a cavalo nos nossos dias festivos.
De fato, o tradicionalismo representa muito mais, eis que o seu
conteúdo filosófico significa a afirmação de princípios e conceitos que se
perenizaram ao longo do tempo e foram preservados por nossos antepassados, que
os sustentaram com bravura, dignidade e lealdade. O ano passado, ano do
sesquicentenário da Paz de Poncho Verde, fez com que se redobrassem essas
manifestações síndico-culturais e, naquela ocasião, o realce à atividade
tradicionalista foi mais expressivo, a imprensa gaúcha fez registros e a
própria imprensa nacional, demonstrando a conseqüência desse trabalho de
difusão a causa Farroupilha, começou a enfocar a nossa saga e a nossa cruzada
de forma diversa da que vinha fazendo ao longo do tempo. Foi inspirado nesses
fatos, e atento às sugestões do meu quase irmão, Luis Dexeimer, que eu propus a
instituição do Prêmio Tradicionalista Glauco Saraiva, com o claro objetivo de
enaltecer as pessoas e as entidades que tenham ou venham a ter destaque na
consecução dos objetivos preconizados pelo nosso querido Glauco, que é
sabidamente uma das primeiras vozes a traçar o Norte, que tem sido partilhado
por vários seguidores, dentre os quais o Antônio Augusto e a Fátima se inserem
de forma muito expressiva. A designação do Antônio Augusto Fagundes como sendo
o nome da pessoa que, pela vez primeira, iria receber o prêmio é quase que um
imperativo e não uma mera circunstância. Todos sabem que o Glauco e o Antônio
Augusto, cada um a seu modo, a seu jeito e a seu tempo, são alicerces muito
fortes de todo esse movimento. E, certamente, se o Glauco estivesse entre nós -
eu vejo aqui a sua filha - ele diria que o Antônio Augusto é o filho homem que
ele gostaria de ter tido, tamanha era a vinculação entre ambos. E eu, que
aprendi a respeitar o Glauco pela coerência, pela firmeza, pela convicção com
que ele defendia suas posições e pela bravura com que ele lançou, com o Paixão
e com tantos outros, o Movimento Tradicionalista no Rio Grande do Sul, sinto-me
grato, no dia de hoje, por ter propiciado esta Sessão Solene, que começa com o
Antônio Augusto, passa pela Fátima Gimenez, mas passa, necessariamente, pelo
Glauco Saraiva. É como se nós conseguíssemos voltar no tempo e promover uma reunião
entre Canabarro, Garibaldi e Anita. Certamente que uma reunião desses vultos do
passado necessariamente precisaria ter alguma coisa de lendária; quem sabe
saci-pererê, o nosso moleque atrevido. E para que houvesse um fecho dessa
reunião simbólica, eu trago a lembrança de outro moleque: o moleque da Ilhota -
o Lupicínio Rodrigues, que empresta o nome ao prêmio que nós vamos entregar
hoje à nossa querida Fátima.
Pensei bem quando, observando que este prêmio instituído em Porto
Alegre para cultuar os destaques gaúchos na área musical, vinha sendo quase que
sistematicamente entregue a gaúchos e gaúchas que foram brilhar fora do Rio
Grande e honrar a nossa cultura e a nossa formação político-social, entendi que
esse título deveria ser entregue, nesse ano em que instituímos o prêmio Glauco
Saraiva, a uma mulher que canta no Rio Grande e canta as coisas do Rio Grande.
Nesta tríade Glauco-Antônio Augusto-Fátima eu vejo o Rio Grande em que eu
acredito, em que eu tenho fé, que me dá esperanças, esse que, certamente, irá
vencendo os obstáculos que lhes são antepostos, retomar o seu caminho histórico
que sempre foi comprometido com aqueles antepassados que tingiram de sangue as
coxilhas do Rio Grande na busca da afirmação dos princípios da liberdade, da
igualdade e da fraternidade.
Hoje se observa que a tradição do Rio Grande é cultivada não só aqui,
mas também em várias unidades da nossa Federação, e registra-se a ação
fundamental dos centros de tradição gaúcha que estão espalhados por todo o
Brasil. Esses centros tiveram, no CTG 35, a sua primeira centelha.
Por tudo isso, no dia em que nos preparamos para assistir o desfile
cívico de 20 de setembro, tenho a satisfação de consignar que estamos
integrados ao espírito farroupilha. Tanto é que já aprovamos a oficialização da
Revolução Farroupilha no nosso calendário oficial de eventos, projeto esse que
deverá ser definitivamente consagrado quando o Prefeito Tarso Genro o
sancionar, fato esse que, espero, ocorra dentro da brevidade que o tríduo legal
estabelece.
Esse movimento salutar nasceu com Glauco Saraiva, que tem em Antônio
Augusto um defensor e propagador, e que tem nas canções de Fátima Gimenez
aquela lhaneza que a mulher gaúcha sempre deu às causas que defendemos.
Muito obrigado pela presença de todos, meus cumprimentos ao querido
Antônio Augusto Fagundes e à querida amiga Fátima Gimenez, porque os dois são
aquelas criaturas que bem compreenderam o que queria Glauco Saraiva, que as
coisas lindas do nosso eterno Rio Grande jamais fenecessem. Todos juntos,
Vereadores ou não, integrantes desta sociedade, temos o compromisso de levar
para o próximo milênio essa idéia, essa postura e, sobretudo, essa determinação
de jamais deixar que as idéias, as posições, as gloriosas posições dos nossos
antepassados, os Farrapos, possam ser, de um lado, mal compreendidas e, de um
outro, esquecidas. Não serão esquecidas, nem mal compreendidas, porque não
haveremos de permitir. Lá do céu o grande Glauco Saraiva haverá de dizer:
"Buena gauchada, vocês entenderam bem o meu discurso". Muito
Obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Registramos a presença do
Dr. Eduardo Silveira Martins, Vice-Presidente do Rotary Club de Porto Alegre;
do Sr. Nei Machado, Presidente do Clube Pitoco, Jogo de Truco; do Sr. Egídio
Baques; empresário Pedro Chaves Barcellos; Dra. Maria Luísa Saraiva Soares,
filha de Glauco Saraiva; Sra. Ana Luísa Fagundes, esposa do homenageado;
jornalista Mário Emílio de Menezes, representando a Associação Riograndense de
Imprensa; Sra. Eliane Meleti, representante da Secretaria de Educação do
Estado; Sr. Carlos Rezende, Delegado; Sr. João King, que representa o Grande
Oriente do Rio Grande do Sul e a Loja Maçônica Província de São Pedro; a
Senhora Neusa Saraiva, representante do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore;
a Senhora Ariete Pinto dos Santos, representante da Biblioteca Pública do
Estado; o Heleno, que está aqui nos prestigiando também.
O Ver. Giovani Gregol está com a palavra para falar pela Bancada do PT.
O SR. GIOVANI GREGOL: (Saúda os presentes.) Estou
aqui, hoje, representando e trazendo a homenagem sentida e até comovida do PT,
que tem uma Bancada de dez Vereadores nesta Casa e que tem o orgulho de
governar, através do Prefeito Tarso Genro, esta Cidade .
O grande romancista, pensador, filósofo e reformador social Leão
Tolstoi, disse: "Se queres falar do universal, retrata tua aldeia”. Foi,
talvez, a maior frase feita com poder de síntese até hoje, explicando aquilo
que nós já constatamos: de que, quando queremos falar da alma universal, temos que,
inevitavelmente, falar de nós, falar do regional. Nós entendemos que, hoje,
junto com os nossos representantes, através deles, através do trabalho deles,
Fátima Gimenez e Nico Fagundes, permita-me chamar assim o amigo, de quem,
aliás, sou fã, como tantos milhares de gaúchos e brasileiros, de todos os
rincões e querências, através do trabalho ao qual eles dedicam as suas vidas,
nós estamos, creio eu, homenageando a gloriosa data do 20 de Setembro e dos
seus patriarcas, dos seus idealizadores e dos seus heróis. Algum tempos atrás o
Nico Fagundes, desta tribuna, disse uma frase que marquei muito, e nós sempre
aprendemos com ele. Dizia ele, citando outro pensador: "Coitado do povo
que precisa de heróis; nós não precisamos, mas os temos em pencas". Eu queria
repetir essa frase e acrescentar que temos heróis, entre outros, da nossa
Grande Revolução Farroupilha. Hoje, o nosso Estado está reintegrado, graças a
Deus, graças a nós, à unidade nacional, e nós todos lutaremos para que assim
continue. Mas temos as nossas idiossincrasias, somos diferentes. Aliás, cada
vez mais o segredo da democracia e da convivência democrática e pacífica no
mundo parece-me mais essa compreensão de que os iguais devem ser diferentes. A
maior prova: homem e mulher. Há coisa mais diferente? Salve a diferença! Mas
iguais. A luta pela emancipação feminina. Lembro a figura da grande Anita
Garibaldi pela igualdade dos diferentes. As raças são diferentes? Pretos,
brancos, amarelos, indígenas. São iguais, mas diferentes. Nós, gaúchos, somos
brasileiros? Tanto como qualquer outro brasileiro, e lutamos para ser
brasileiros de espada na mão, mas somos diferentes e queremos, com honra,
cultuar essa diferença e aperfeiçoá-la, porque o verdadeiro tradicionalismo não
é aquele facho que só se volta ao passado, mas é aquela luz que estuda o
passado, conhece o passado, ama, cultua o passado para conhecer o presente e
melhor construir o futuro.
O Partido dos Trabalhadores quer aqui pleitear esta homenagem à
Revolução Farroupilha, que não se concluiu. Nós consideramos que muitas das
razões, em que pese hoje outros caminhos, não mais espada na mão, não mais
sangrentos, em que pese a vontade da unidade nacional e não do apartamento, mas
a situação periférica, econômica ainda pouco valorizada em relação à
contribuição econômica que damos, a social, a política e a cultural ainda é
motivo de luta e pesa sobre nós. Pobre daquele que pensa que o passado passou e
não nos diz nada e não nos impõe nenhuma bravura, nenhuma responsabilidade.
Quero falar sobre os homenageados, embora seja dispensável. Como fã e
como gaúcho, quero falar sobre a Fátima, que, como artista nos comove - mulher
brava, guerreira, bonita, inteligente, politizada. E uma pessoa que tem
opiniões, que acompanha o mundo, que revaloriza a nossa arte, principalmente a
cultura musical gaúcha e reatualiza permanentemente. E também queremos
homenagear o Ver. Reginaldo Pujol, que teve uma iniciativa muito importante em
homenagear essa dupla que é uma espécie de síntese do que de melhor temos, com
respeito a todos os demais da nossa cultura gaúcha.
De Antônio Augusto Fagundes quero reafirmar imodestamente a amizade.
Não poderíamos deixar de estar aqui hoje homenageando o amigo, e agradecemos as
palavras quando nos cumprimentamos na entrada. Eu e o Nico, há algum tempo atrás,
estivemos em algumas trincheiras difíceis de suportar, entre elas a defesa da
manutenção da Estância da Harmonia e do nosso parque, que queremos que seja uma
área revitalizada, mais usada, e que seja dado o destino original a esta parte
nobre da nossa Cidade, uma das poucas partes que não está privatizada, onde o
cidadão de Porto Alegre possa ter acesso ao seu rio de forma livre, porque o
resto já está trancado, embora a Lei Orgânica o proíba claramente, porque
obriga o acesso direto a toda margem do nosso rio no nosso Município, e,
também, o único lugar ainda, e por muito tempo, ou o melhor lugar, sempre, em
que um turista, um brasileiro de outro rincão possa ver o gaúcho e não apenas o
"gaúcho de churrascaria". Sem ser convidado, sem pagar ingresso, sem
conhecer um centro de tradições - um estrangeiro nem sabe o que é isso - pode
vir aqui e ver o que é um fogo de chão, um pingo selado, um cusco, um churrasco
e assim por diante.
Os dois homenageados são , é claro, artisticamente, conhecidos. Há o
trabalho do Nico dentro e à frente, comandando o Instituto Gaúcho de Folclore -
outros amigos do Instituto estão conosco hoje. Mas quero ressaltar também seu
trabalho científico: ele é um grande antropólogo, doutor em várias atividades.
Para mim, eu como historiador, como professor de História, como
pré-historiador, isso é muito importante: alguém que analisou do ponto de vista
frio, científico - frio, mas envolvente - o ser gaúcho em si. O Nico deu uma
contribuição a seus companheiros para a resposta a essa eterna pergunta: quem
somos, de onde viemos e, portanto, para onde vamos?
Agradeço a oportunidade e desejo a todos vocês, principalmente aos
homenageados, Fátima Gimenez e Antônio Augusto Fagundes, de nossa parte, e
pedindo licença ao Patrão do Céu, desde logo, uma longa luta em homenagem aos
gaúchos e à nossa terra. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Registro a presença do Ver.
Airto Ferronato, ex-Presidente desta Casa
e Líder da Bancada do PMDB, e da Vera. Clênia Maranhão.
O Ver. Lauro Hagemann está com a palavra, pelo PPS.
O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, integrantes da Mesa, Srs. homenageados, Fátima Gimenez e Antônio
Augusto Fagundes. Uma das vantagens de ser mais velho é de ter presenciado alguns
episódios que envolvem os que dão azo à homenagem e aos que a recebem. Em 1950
eu me encontrava com o Lupicínio Rodrigues nos estúdios da Farroupilha, nos
altos do viaduto, antes de ser incendiada, quando ele fazia os primeiros
programas radiofônicos com as suas melodias. Naquele ano, em 1950, eu
trabalhava na rádio Progresso de Novo Hamburgo e, num determinado dia da
semana, se apresentava lá, à noite, Glauco Saraiva , declamando as suas
poesias, falando sobre tradição. Alguns anos mais tarde fui vizinho do Nico,
quando nossos filhos eram pequenos e nós ainda não éramos avós, éramos, apenas,
pais. A Fátima é de uma geração mais recente, mas não menos expressiva, porque
é a continuação dessa luta toda. Por isso, Srs. Vereadores, a minha presença
aqui, hoje, é muito gratificante, pois reencontro pessoas que são homenageadas
por um gesto do Vereador Pujol, que visa, mais do que nunca, nos conduzir para
o episódio maior do Rio Grande, cuja data se comemora amanhã.
O Movimento Tradicionalista Gaúcho tem diante de si, meu prezado
Brizola, uma tarefa muito especial. Não é a exteriorização do tradicionalismo
que eu entendo como fulcro desse processo. Nós estamos assistindo no mundo o
esboroamento dos estados nacionais. A União Soviética é um caso típico; recentemente,
a Iugoslávia. O que significa isso para os sociólogos, antropólogos,
estudiosos, é um reordenamento do mundo em termos políticos, econômicos,
sociais, em que o tribalismo está voltando à tona e, por favor, não quero ser
apologista do apocalipse, nem coisa parecida, e nem se trata disso, quero
apenas plantar bem os pés no chão para vislumbrar, quem sabe daqui a algum
tempo, uma nova composição política, social, econômica, antropológica, porque
nós estamos num processo de formação aqui nesta região pampeana que nós
cultuamos como a base do nosso movimento tradicionalista. Esse Mercosul, porque
nós estamos nos encaminhando celeremente, é a visão econômica desse processo.
Então, cabe ao movimento tradicionalista, como uma de suas tarefas, permitam-se
sugerir isso, perquirir o futuro desse processo para que, aproveitando as
lições do passado, e elas são enormes, construir este mundo futuro. Não sei
quanto tempo vai levar isso, se acontecer, mas poderá acontecer e nós devemos
estar preparados para isso. Perdoem-me ter invadido este terreno numa véspera
de 20 de setembro, mas me parece que é o momento mais adequado para nós
começarmos a cogitar dessa perspectiva. Não podemos ficar apenas embalados pelo
passado; temos que usar o passado como impulsor do futuro e para isso nós temos
as melhores condições. As nossas tradições são excepcionais para a construção,
justamente, de um mundo futuro, hoje tão espremido e angustiado para algumas
coisas que nos corroem e que não fazem parte da nossa tradição, pelo contrário.
Quero agradecer a presença da Fátima e do Antônio Augusto aqui nesta festa
hoje, que nos proporcionaram a alegria e o reencontro com tantas pessoas
conhecidas e ilustres, as irmãs Fagundes principalmente, e desejar que ambos,
cada um no seu setor, cumpra, já cumpriram, mas que continuem cumprindo o seu
objetivo e o seu papel, que até agora tem sido feito. Meus parabéns e
cumprimentos a todos pelo 20 de setembro amanhã. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Antes de fazermos a entrega
dos diplomas representativos das outorgas das homenagens, gostaríamos de
registrar ainda, no final desta Sessão, sob os acordes do hino Riograndense,
que teremos a honra, que a nossa homenageada nos brindará cantando-o. Então,
teremos essa rara oportunidade de vivenciarmos, além da beleza da Sessão
Solene... Nós gostaríamos de registrar a presença do Cidadão de Porto Alegre e
Presidente da Comenda dos Italianos - é um cadinho de etnias, como diz o Ver.
Lauro Hagemann, ou no conteúdo de seu discurso - do Sr. Marcos Racheviski,
Presidente da Confraria dos Italianos.
Convidamos os Vereadores Reginaldo Pujol, Giovani Gregol e Lauro
Hagemann para fazerem a entrega do título aos homenageados.
(Procede-se à entrega dos títulos.) (Palmas.)
Passo a palavra ao Antônio Augusto Fagundes, nosso homenageado.
O SR. ANTÔNIO AUGUSTO
FAGUNDES:
(Saúda os componentes da Mesa.) Permito-me incluir, muito emocionadamente, os
Cavaleiros da Paz nessa saudação, pois aqui estão representados. (Palmas.)
Meus companheiros da Tribo com o Pé no Estribo, como nós chamamos,
"no lombo dos cavalos violamos fronteira cinco vezes, levando sempre uma
mensagem de paz e de amor aos povos latino-americanos". É uma honra
tê-los, meus irmãos, neste momento. É uma referência muito carinhosa, muito
especial, à minha querida família. Somos uma família muito grande, temos muito
orgulho do amor que nos une, dos meus cinco irmãos. Acredito que todos estejam,
espiritualmente, aqui neste momento. Não tenho a honra e o prazer de abraçar
nenhum, mas das minhas quatro irmãs, três estão aqui: a Zilá, que praticamente
me criou, a Irle e a Flora. Muito obrigado.
É muito difícil falar hoje, aqui. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Registramos a presença da
Sra. Flora Fagundes Ruas, irmã do nosso homenageado e esposa do Ver. Pedro
Ruas, que por ter outros compromissos não se encontra neste Plenário.
Está com a palavra a Senhora Fátima Gimenez.
A SRA. FÁTIMA GIMENEZ: (Saúda os presentes.) Ser
alvo de uma homenagem é sempre motivo de satisfação para qualquer pessoa.
Quando essa homenagem parte dos legítimos representantes do povo, a satisfação
é redobrada. E, nesse caso, além da simples sensação de euforia, perguntamo-nos
o que fizemos para merecer tal distinção. E dessa reflexão surge, diante de
nós, um filme de nossa vivência.
Iniciei a carreira artística dentro do movimento nativista há 15 anos.
Tem sido uma jornada pontilhada de emoções fortes, em contato com platéias de
todos os rincões, conhecendo o carinho e o calor que há no aplauso do povo
riograndense. Essa tem sido a trajetória de muitos artistas gaúchos. Talvez por
isso que me sinto à vontade para receber esse prêmio, pois, assim como meus
colegas, luto pelo crescimento cultural do Rio Grande. O que me distingue aos
olhos dos que me agraciam é, justamente, o fato de ter bem explicitado o amor
que tenho pela minha terra através de
canções como "Cabo Toco", que imortalizaram a figura de Olmira Leal
de Oliveira na obra do Heleno e do Nilo Brum, ou como a gravação do Hino
Riograndense, que faz parte do meu disco e do repertório de todos os
"shows". Isso é animador e me convence de que estou no caminho certo.
Outro detalhe importante dessa homenagem é o fato de ela estar sendo prestada a
uma pessoa do sexo feminino. Ao longo da nossa história, com exceções que se
contam nos dedos, o valor das nossas mulheres tem sido reconhecido com muita
timidez. É bom constatar, enfim, que os tempos estão mudando. Vemos nossas
mulheres assumindo posições de destaque, de liderança nas mais diversas
atividades, quer sejam privadas, quer públicas. Estamos deixando de ser apenas
objeto de admiração para galgarmos posições de sujeito na sociedade, tudo isto,
resguardando a feminilidade.
Não posso deixar passar em branco o significado que tem para mim o nome
deste prêmio "Lupicínio Rodrigues", porque tive o privilégio de
conhecer pessoalmente o "Lupi". Na época, eu era apenas uma criança
levada pela mão do pai a assistir ao encontro 'Café Poético" que acontecia
no restaurante "Dona Maria". Bons tempos, de lindas canções, canções
imortais de Lupicínio Rodrigues. Como poderia deixar de ficar orgulhosa numa
ocasião como esta? Meu nome ligado ao de "Lupi". Também ressalto a
circunstância especial de estar sendo premiada em plena Semana Farroupilha.
Isto me deixa particularmente feliz, pois sei muito bem da importância dessas
festividades, já que elas cultuam o que há de mais autêntico em termos de
regionalismo e afirmação dos valores que nos distinguem como coletividade
organizada. Quero deixar o meu agradecimento à pessoa que desencadeou o
processo desta premiação. Trata-se do Ver. Reginaldo Pujol, autor deste projeto
de lei, e, agradecendo a ele, estou agradecendo a todos os Vereadores desta
Casa e, por extensão, a todos os gaúchos. Muito obrigada.
(Não revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: Registramos a presença,
neste Plenário, do Ver. Artur Zanella.
Após as manifestações dos nossos homenageados, não nos resta outra
coisa a fazer a não ser agradecer pela presença de todos, mas não sem antes pedir
à Fátima que assuma à tribuna para que, em pé, cantemos o Hino Riograndense.
(Executa-se o Hino Riograndense.)
Agradeço mais uma vez pela presença de todos, principalmente aos nossos
homenageados e pelo momento musical que nos proporcionou a Fátima Gimenez.
Está encerrada a Sessão.
(Encerra-se a Sessão às 18h35min.)
* * * * *